sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A MORTE DAS GALINHAS DO CMTE.GABRIEL REZENDE...


































Conheci o Gabriel Rezende (Gabriel José Rodrigues de Rezende Neto) e o Roberto França no ACJ- Aero Clube de Jaboticabal-SP os anos 60, quando rodeava o pessoal da aviação, tanto na sede social como no próprio Campo de Aviação. Todos que voavam ali eram meus ídolos. O Gabriel Rezende apesar de morar na Capital São Paulo, sempre teve avião e era além de amigo do Roberto França parente dele. Quando vinham para Jaboticabal-SP, nos final de tarde sempre se reuniam com outros pilotos do Aero Clube na casa de veraneio do Roberto, a qual ficava a alguns quarteirões de casa. Nunca desfizeram dos garotos que queriam voar e se encantavam com suas longas histórias aviatórias, apesar da nossa pouca idade. Acho que acreditavam na gente e nos nossos sonhos, pois com certeza já haviam sonhado em voar muitos anos antes. De famílias mais privilegiadas e por terem nascidos em berço de ouro como diziam os antigos, voavam sempre. Ah ! Como nós queríamos voar...
O Cmte. Gabriel vinha de avião, decolando do Campo de Marte em Sampa e pousava na sua Fazenda Cruzeiro no Município visinho de Guariba - SP, mas assim que resolvia as pendências e colocava a casa em dia na fazenda, decolava de lá e vinha para o seu paraíso, a "CIDADE DAS ROSAS", nossa querida Jaboticabal-SP, encontrar os amigos aviadores. Coisa chique hein em pleno anos 70....
O tempo foi passando nesse vai e vem e nos 70 consegui meu Brevet de Piloto Privado, minha primeira glória de uma luta iniciada na infância contra a vontade de um pai de um lado e o amor e ajuda incontável de uma mãe que não mediu esforço para propiciar o caminho dessa minha brilhante carreira, brigando com todos, com o tempo e com as suas necessidades. Meu pai nunca quis voar comigo, mas minha mãe voou e viu que sua labuta não foi em vão, afinal as mães compreendem os filhos. Ajudam, perdoam e dão as próprias vidas por eles. E a minha querida ELZA não foi diferente das verdadeiras mães que se orgulham dos seus filhos.
Como é o destino e como as coisas acontecem em nossas vidas. Acho que são Laços Eternos, coisas inexplicáveis.
Em 1978 comecei a voar para a extinta INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE FRUTAS em Matão-SP, que se transformou repentinamente na CENTRAL CITRUS, não vingou e sucumbiu rapidamente. Mas isso não vem ao caso, porque já deu para perceber que em dois anos, perdi o meu trabalho como Comandante de Aeronave. Nesse ínterim, durante os primeiros vôos que fiz para São Paulo-SP, Campo de Marte e Congonhas, tive certa dificuldade em dar partida quente na aeronave Cessna-210 L Centurion 1974, o PT-KFH. Numa dessas, estava no Campo de Marte/SBMT em frente ao Hangar J.P. Martins Aviação, quando de tanto dar bomba na ignição quase coloquei fogo na aeronave. Eis que senão aparece o MEU ANJO DA GUARDA para satisfação e alegria. Sabe quem apareceu para me auxiliar. Nada mais nada menos que o Cmte. Gabriel Rezende. Fiquei encantado, pois fazia anos que não nos víamos e ele feliz por me ver voando um Centurion em São Paulo. Naquela época ele tinha um Cessna-182 / 1973, o PT-INO, com o qual voava para a “City of Roses” e para sua Fazenda no Mato Grosso do Sul, na Serra da Bodoquena na região de Dourados-MS.
Com muita calma aliada a sua vasta experiência ajudou-me na partida e deu-me alguns bizus da operação da aeronave, aplicados e validos até hoje.
Inexplicavelmente assim as coisas aconteceram. Nunca consegui esquecer as suas virtudes e boa vontade que sempre imperaram nesses moços, Gabriel e Roberto França. O Roberto o que tinha de gordo tinha de simpatia e bondade. Onde estarão eles hoje não sei, mas deixaram uma grande lição de vida para mim e me ensinaram a ser como eles.
Bom a história é o seguinte: Num dia ensolarado de outubro de 1980, num final de tarde e fim de semana, habilitado PILOTO AGRICOLA, estava voando por sorte do destino um grande avião agrícola na época, o THRUSH SR-600 HP fabricado pela pioneira ROCKEWELL/USA. Executava serviços aeroagricolas nas culturas de cana de açúcar da USINA SÃO MARTINHO com base em Pradópolis-SP. Naquele dia inesquecível para nós dois, voando em área agrícola próxima a Fazenda Cruzeiro, vi o Gabriel Rezende pousando ali com seu Piper Corisco. Resolvi dar uma passagem baixa no pátio ao lado da pista em frente à casa da sede onde estava estaqueando sua aeronave. Como estava voando agrícola, ou seja, rasante sobre a cana não percebi a existência dos barracões da sua granja e passei com o arrojado motor radial de 9 cilindros e 600 HP a pleno, roncando com um trovão enfurecido. Após a passagem uma grande puxada, uma reversão nos pés, feito 180º uma nova passada e um tchau balançando as asas em fina coordenação. Lembro-me que era uma sexta-feira. No dia seguinte, sábado, apareceu o Gabriel Rezende no ACJ,onde nos finais de semana exercia a função de IPE- Instrutor de Pilotagem Elementar. Desceu do carro em frente ao velho hangar usado na instrução, com um enorme saco branco de linho e me entregou o presente com um grande sorriso por entre seu tradicional bigode. Disse:- Aqui estão algumas das minhas galinhas que você matou naquele rasante ontem lá na fazenda e já estão limpas. Você me deve as cervejas...
Quis me desculpar, mas ele era tão elegante além de ser um homem bem lapidado pela vida que só sorriu...
Entreguei as penosas para os saudosos Manduca e esposa Dnª Ruth que além de guarda-campo mantinham a Cantina do ACJ. A querida Ruth fritou, assou, fez sopa, cochinhas e serviu todos que estavam no Aero Clube, mas a cerveja ficou por conta de cada um
. Tenho uma divida muito grande com o Gabriel, pois nunca paguei as prometidas cervejas, mas degustei suas galinhas vários dias, inclusive algumas delas que levei para casa.
Cmte Gabriel Rezende, onde quer que esteja nesse momento, minha gratidão e meu reconhecimento pelo seu nobre ensinamento como homem de bem. Valeu muito ter te conhecido...Esteja certo, alguma coisa aprendi contigo...

Obs: O Gabriel Rezende acabou vendendo a Fazenda Cruzeiro, a qual hoje está transformada num mar de cana. Consegui encontrar nos meus arquivos pessoal um velho ROTAER, daquela época, onde se vê que o aeródromo da Fazenda Cruzeiro estava registrado até Agosto de 1982. Hoje não existe mais a pista, mas pelas imagens de satélite do Google Earth consegui localizar a propriedade.

2 comentários:

  1. Cmte Delfino, sou filha do Cmte Gabriel Rezende, que leu seu post ao meu lado. Fiquei emocionada e pude enxergar as cenas de seu relato, pois passei as férias de minha infância em Jaboticabal e sempre ia muito com meu pai no no ACJ e em Marte. Se eu fiquei feliz, meu pai ficou mais ainda, está me falando de vc. com aquele sorriso que vc. bem descreveu. E ele também se lembra de quando te viu voando um Centurim e que, realmente, ficou muito feliz com isso. O tio Roberto também está bem e continuam muito amigos, até hoje. Parabéns e obrigada pelo post, vc deixou o meu pai muito, muito feliz mesmo! Mônica Rezende Kayatt (monica@kayatt.adv.br)

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  2. Delfino que relato emocionante, é realmente uma historia de aviador, daquelas que mostram como o amor pela aviação é algo sem medida, quiça todos os pilotos de hoje fossem assim.
    Tbm sou piloto agricola desde 2003, PC desde 1998 e PP desde 1994. Por um acaso encontrei seu blog quando procurava fotos do evento do Sindag em Campo Grande onde fiz alguns voos no Thrush 510P para demonstração, e me vi aqui cuidando dos galpões de granjas, cuidando para não ter a triste noticia de que vitimei algumas, pois hj com certeza não seria avisado com um grande sorriso como teve o Cmte Gabriel, que com toda certeza é uma pessoa impar.
    Que Deus lhe mantenha com essa humildade de saber reconhecer e agradecer à aqueles que lhe ajudaram em sua jornada.
    Grande abraço do Cmte Canzil.

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